8.4.09

Ovo-lar

Iracema pranteada e cheia de lantejoulas lágrimando seus pelos verdes-mares lançou: estou pra lá marrakesh. Não sou daqui e não fim para ficar. Sou de outro mundo e esta cidade me cansa porque os habitantes ovos, en-quadrados pela parentada achatada do Colombo ou de outro comboio sorrindo perigo, perigo, perigo. Quando fui sentar na praça muito engraçada-não-tinha-banco-não-tinha-praça-não-tinha-nada, eu não podia entrar nela não, ovos rolavam com asco dos outros, cuspindo no chão, jogando lixo que não lhes davam nojo, esmagando os meninos de lata de ozônio do país Amônia e não respiram, ou justamente para não inspirarem conspirações, cheiram alucinadamente e ficam colados nas fissuras do meio-fio com medo de cabeças-chatas. Ovo cú-bico cú-ri-culo ri-dí-culo, zombam com olhos de peixe na ponta do chifre. Estou a-cu-a-da. Por favor, me proteja. Eles não tiram os olhos da gente. Escuta só: perigo, perigo, perigo. Não ouve o ovo? Pode ser o direito ou o esquerdo, tanto faz. Às vezes tem seios enormes derramando uma gosma grudenta que dispara dedos para tudo quanto é lado e no bico dos peitos há um nariz que cresce toda vez que vaiam dos vacilos. Eu vou embora. Não é assim. Você está viajando? E quem não está. Sendo que aqui se viaja de lugar à nenhum numa canoa quebrada – duas remadas, tira água, duas remadas, tira água. A correnteza te acorrenta na tormenta de não parar enquanto não virar estátua. Olha as minhas irmãs-gemas medonhas expurgadas pelos ovos nos calçadões. Tadinhas, morrem de frio, sem roupa, mas gozam no consolo dos meninos que desmaiam com elas nas madrugadas. Eles lhes levam madrigais de estopa e lavam a porra da gosma deles. Me tira daqui, me leva daqui. Olha só você, está mudando, desgraçado, ovo-lado, de que lado você está? Ovo não tem lado. Eu sei, você quer me pegar. Essa é a senha de vocês: estou aqui para te ajudar. Se a gente se abre, vocês trazem uma novena e já começam a velar con-jurando nossa desistência. Ovo, eu? Nem morto. Quer me con-fundir, macho? Não é assim que vocês falam? Ovo não morre porque ovo não nasce. Posso estar doída, doida não. Faço das suas palavras as minhas: ovo, nem morta!

(Blogue: Aos pés de Iracema)

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